sábado, 20 de julho de 2013

Ainda hoje existem Apóstolos?

Há Apóstolos Hoje?
Jesus Cristo fundou, estabeleceu e continua a edificar sua Igreja através dos séculos. Dentre os vários dons e ofícios que ele tem distribuído ao seu povo estão aqueles que se referem aos líderes da Igreja. Esses líderes são os oficiais da igreja, capacitados e chamados por Deus, bem como reconhecidos pela congregação, para sua função.
Ofícios Eclesiásticos
Os oficiais da Igreja têm a responsabilidade de guiar o povo de Deus através da liderança pelo exemplo, bem como através do ensinamento da Palavra e dos preceitos de Deus, que alimentam os cristãos espiritualmente. A eles também é conferida a responsabilidade de supervisionar a administração da Igreja. Sua obra é para a edificação da Igreja.
As qualificações requeridas daqueles que são chamados para os ofícios de liderança na Igreja, bem como suas responsabilidades, são encontradas em diversas porções das Escrituras (1 Timóteo 3 é um dos melhores exemplos).
É importante ressaltar que aqueles apontados aos ofícios da Igreja têm dons espirituais que também se encontram, em diferentes graus, nos membros da congregação. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.O Espírito Santo confere seus dons e opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer (1 Co. 12:4-11). Os oficiais da Igreja, entretanto, têm de ter reconhecimento público, ou seja, do povo de Deus, com relação aos seus dons, capacidade, e chamada para as funções de liderança.
O Novo Testamento menciona três ofícios de liderança na Igreja: apóstolos, presbíteros (ou bispos, ou pastores; os três termos são usados nas Escrituras significando o mesmo oficio, cf. Tt. 1:5-7; At. 20: 17; 28) e diáconos. É evidente que as igrejas cristãs têm através dos séculos instituído padrões diferentes de governo eclesiástico, divergindo quanto ao entendimento mais apropriado do modelo bíblico. Historicamente, entretanto, houve um consenso de que o oficio apostólico não mais existe na Igreja.
Alguns cristãos na história recente da Igreja, porém, têm argumentado que não há nenhum versículo bíblico que diga explicitamente que não pode haver apóstolos nos dias de hoje. Algumas igrejas vão até ao ponto de denominar alguns de seus lideres como apóstolos. Muitos cristãos se submetem a tais apóstolos com a idéia de que estão se submetendo a autoridades no mesmo nível dos apóstolo Paulo e Pedro, por exemplo.
Isso obviamente levanta a questão: há apóstolos hoje? É bíblico que igrejas denominem seus líderes apóstolos? É verdade que se alguém negar que possa haver apóstolos hoje, essa pessoa estará negando a validade dos dons do Espírito para hoje, bem como o modelo bíblico de vida e organização eclesiástica?
O primeiro passo para que tais questões sejam respondidas é examinar o conceito bíblico da apostolado, sua função, responsabilidade, e qualificações necessárias.
O Significado da Palavra “Apóstolo”
Existem dois sentidos básicos para o termo “apóstolo”. De um modo mais geral, o termo se refere a qualquer pessoa que seja um enviado ou emissário de Deus através da Igreja para uma obra especial, seja de liderança ou não (e.g., Fl. 2:25). Esse significado provém da correlação entre o substantivo “apóstolo”(ἀπόστολος) e o verbo em grego que significa “enviar” (ἀποστέλλω). Nesse sentido mais geral, não há dificuldade em se aceitar que qualquer pessoa pode ser um apóstolo de Deus. Qualquer pessoa pode ser enviada, por exemplo, por uma igreja para o trabalho missionário, e, nesse sentido amplo, ela é um apóstolo de Deus.
No Novo Testamento, porém, o sentido mais comum da palavra é o sentido técnico e restrito, se referindo a um grupo seleto dos apóstolos de Cristo. A palavra traduzida “apóstolo” (e suas derivações) é encontrada 80 vezes no texto grego do Novo Testamento. Dessas, ela tem esse sentido restrito nada menos do que 73 vezes. O sentido mais amplo de “enviado” ocorre somente 5 vezes (Jo. 13:16; 2 Co. 8:23; Fl. 2:25; At. 14:4 e 14 são duas referências ambíguas); ela se refere uma vez a Jesus Cristo (Hb. 3:1); e, finalmente, há 3 ocorrências que apresentam dificuldades exegéticas, podendo ter tanto o sentido mais amplo como o mais técnico: Rm. 16:7; At. 14:4; 14.
Sendo que não há controvérsia quanto ao sentido mais amplo da palavra (podendo em tese ser aplicada a qualquer pessoa que seja enviada para uma missão, seja um oficial da Igreja ou não), nosso foco aqui é no sentido mais técnico da palavra, ou seja, no ofício do apostolado, que alguns alegam ter nos dias de hoje.
Os Apóstolos e as Escrituras
Essencial para o entendimento do papel dos apóstolos é o fato de que o Novo Testamento foi escrito, pela da inspiração de Deus, por eles e por seus companheiros mais próximos. A eles foi dada, pelo Espírito Santo, a habilidade de se lembrarem precisamente das palavras e ensinamentos de Jesus, para que as ensinassem de maneira verbal e escrita.
Jesus disse aos seus discípulos (mais tarde chamados apóstolos):
“Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”. (João 14:25-26)
Por causa disso, os apóstolos consideraram seus escritos explicitamente como sendo do mesmo nível de inspiração e autoridade do Antigo Testamento. Eles tinham consciência de que seus escritos também eram as Escrituras inspiradas de Deus. Eis alguns exemplos:
"para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos," (2 Pedro 3:2)
"Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo." (1 Coríntios 14:37)
"Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes." (1 Tessalonicenses 2:13)
"ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles." (2 Pedro 3:16)
Note que a palavra traduzida “Escrituras” em 2 Pe. 3:16 ocorre 51 vezes no texto grego do Novo Testamento, e ela se refere ao Antigo Testamento (ou seja, não a quaisquer escritos, mas à Palavra de Deus) em todas as ocorrências. Deste modo, Pedro explicitamente coloca as epístolas de Paulo no mesmo nível de autoridade e inspiração do Antigo Testamento.
Os apóstolos, em virtude de seu ofício apostólico, tinham a autoridade para receber a revelação direta das Palavra de Deus e escrevê-las para o uso da Igreja. Isso, na verdade, foi historicamente o primeiro critério para que um documento fosse considerado, na Igreja primitiva, como sendo parte do Novo Testamento.
Que dizer então dos evangelhos de Marcos e Lucas, do livro de Atos, da epístola aos Hebreus e a epístola de Judas? Marcos, Lucas, e Judas (não o Iscariotes) não eram apóstolos, e não se sabe com certeza quem foi o autor da epístola aos Hebreus. Tais livros foram aceitos pela Igreja primitiva porque, além de outros fatores, seus autores eram companheiros próximos dos apóstolos, e escreveram sob sua supervisão. A evidência bíblica e histórica é que Lucas escrevia sob a supervisão de Paulo, e Marcos sob a supervisão de Pedro. Judas era irmão de Jesus. A epístola aos Hebreus era por muitos considerada como sendo de autoria de Paulo, e outros a consideraram como autêntica por refletir claramente os ensinamentos dos apóstolos.

O fato do Novo Testamento ter sido produzido, de uma maneira ou de outra, pelos apóstolos, é de vital importância para o entendimento do apostolado. Os apóstolos foram comissionados diretamente por Jesus para trazerem suas Palavras inspiradas à Igreja. Ninguém tinha o direito de alegar ter autoridade divina para seus escritos se esta pessoa não fosse um apóstolo ou um de seus companheiros. Ninguém, na história subseqüente da Igreja, jamais teve o direito de incluir seus escritos nas Escrituras sagradas, pois o cânon da Bíblia foi completado após a morte de João, o último apóstolo. Isso por si só indica claramente que, se houvesse apóstolos em qualquer época após o período no Novo Testamento, seus escritos poderiam ser incluídos nas Escrituras, e todos os cristãos estariam obrigados a aceitá-los como sendo a Palavra de Deus. Sendo isso impossível, é impossível que haja apóstolos após o primeiro século, muito menos nos dias de hoje.

As Qualificações dos Apóstolos
Havia duas qualificações para o apostolado:

1. O apóstolo tinha de ser testemunha ocular de Jesus ressurreto.
"até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas. A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus." (Atos 1:2-3)
Isso foi um dos requerimentos para que o substituto de Judas Iscariotes fosse escolhido:
"É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição." (Atos 1:21-22)
Da mesma maneira:
"Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça." (Atos 4:33)
Paulo, por sua vez, também foi testemunha ocular de Jesus ressurreto:
"Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém. Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer." (Atos 9:1-6)
Assim sendo, Paulo faz questão de ressaltar que sua credencial apostólica também era baseada no fato de que ele era testemunha ocular de Jesus ressurreto:
"Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?" (1 Coríntios 9:1)
"Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus." (1 Coríntios 15:7-9)
Note que Paulo diz que ele foi o último dos apóstolos comissionados por Jesus. Suas palavras foram aqui inspiradas por Deus, e portanto não há a possibilidade que ele estivesse enganado, ou que apenas desconhecesse outros apóstolos comissionados depois dele.
2. O apóstolo tinha de ter recebido sua comissão apostólica diretamente de Jesus.
Os Doze apóstolos originais tinham comissão direta de Jesus:
"E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos: Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou traidor. (Lucas 6:13-16; cf. Mt. 10:1-7;" Mc. 3:14)
Por esta razão, quando da apostasia de Judas e da necessidade de que seu ofício fosse preenchido por outro, os apóstolos buscaram a comissão direta de Deus:
"É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição. Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos." (Atos 1:21-26)
Da mesma maneira, Paulo enfatizou que tinha recebido sua comissão apostólica diretamente de Jesus:
"Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos," (Gálatas 1:1)
"Faço -vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo. "(Gálatas 1:11-12)

Quem Eram os Apóstolos?
O número original dos apóstolos, como visto acima, era de 12. Havia significado profético nesse fato, pois seu número correspondia ao número de tribos de Israel. Os 12 apóstolos originais eram a liderança do povo de Deus na Nova Aliança.
Além dos 12, somente duas pessoas são mencionadas explicitamente como sendo apóstolos no Novo Testamento: Paulo (veja acima) e Tiago, o irmão de Jesus e líder da igreja em Jerusalém (Gl. 1:19; 2:9). Paulo menciona claramente que Jesus apareceu ressurreto a Tiago (1 Co. 15:7), e sua liderança em Jerusalém evidencia que os apóstolos tinham reconhecido seu comissionamento direto por Jesus. Quanto a Barnabé (At. 14:4; 14), há duas possibilidades. É possível que as referências em At. 14 tenham o sentido mais técnico da palavra. Neste caso, considerando-se todos os dados acima, e a maneira altamente seletiva na qual o Novo Testamento intitula uma pessoa como apóstolo, se o texto indica que Barnabé era apóstolo no sentido mais restrito pode-se deduzir que ele também possuía as mesmas qualificações dos demais apóstolos. É mais provável, porém, que o sentido da palavra em At. 14 é o mais amplo, já que Paulo e Barnabé tinham sido enviados para uma missão pela igreja em Antioquia, à qual deveriam prestar contas quando completassem a determinada obra (cf. At. 14:27).
Não é impossível que houvesse outros indivíduos que pudessem ter sido considerados apóstolos no primeiro século. Os dados acima estabelecem, contudo, dois pontos principais: em primeiro lugar, mesmo se houvesse outros apóstolos, eles eram com certeza um grupo seleto (pois poucos tinham as duas qualificações necessárias para o oficio) do qual Paulo foi o último membro comissionado (1 Co. 15:8). Isso por si só exclui a possibilidade de haver qualquer apóstolo comissionado por Deus após Paulo. Ninguém pode, após o primeiro século, alegar ter recebido um comissionamento direto de Jesus, através de uma visão ou revelação, para o ofício do apostolado. Deus não contradiz a sua própria Palavra.
Segundo, nenhuma pessoa que não tivesse recebido diretamente de Jesus a autoridade para escrever a Palavra de Deus pela inspiração do Espírito Santo, ou recebido tal comissionamento por um dos apóstolos, não podia ser considerado apóstolo. Tal fato é corroborado não só pela evidência bíblica, mas também pela história da Igreja no processo de reconhecimento do cânon. Isto significa que, estando o número de livros da Bíblia completo, a Palavra de Deus tendo sido por Ele mesmo produzida e preservada por dois mil anos, não é possível que haja apóstolos após a completude do cânon no primeiro século.
O Papel dos Apóstolos na Igreja
Paulo, sob a inspiração do Espírito Santo, nos diz que os apóstolos tiveram um papel definido no plano de Deus para a edificação de sua Igreja. Ele diz aos Efésios que os apóstolos e profetas foram o fundamento da Igreja:
"Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular;" (Efésios 2:19-20)
Da mesma maneira, o apóstolo João descreve o edifício da Igreja de Deus glorificada tendo os apóstolos como fundamento:
"Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro; e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às portas, doze anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que são os nomes das doze tribos dos filhos de Israel. Três portas se achavam a leste, três, ao norte, três, ao sul, e três, a oeste. A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro." (Apocalipse 21:9-14)


A primeira pergunta que devemos fazer é: existem apóstolos nos dias de hoje? Para chegar à resposta, primeiramente precisamos entender quem foi os apóstolos na igreja primitiva. Para tanto, é necessário verificar o fator etimológico da palavra Apóstolo. Biblicamente, esta palavra significa “enviado, mensageiro, alguém enviado com ordens” (grego = apostolos), é utilizada no Novo Testamento em dois sentidos: 1º – Majoritariamente de forma técnica e restrita aos apóstolos escolhidos diretamente por Cristo; 2ª – Em sentido amplo, para casos de pessoas que foram enviadas para uma obra especial. Neste último, a palavra utilizada provém da correlação verbal do substantivo “apóstolo” e o verbo em grego “enviar” (grego = apostello).[3] Das 81 vezes que a palavra apóstolo e suas derivações aparecem no texto grego do Novo Testamento, 73 vezes é utilizada no sentido restrito ao grupo seleto dos 12 apóstolos de Cristo, apenas 7 vezes no sentido amplo (Jo 13:16, 2Co 8:23, Gl 1:19, Fl 2:25, At 14:4 e 14, Rm 16:7) e uma vez para Jesus Cristo em Hb 3:1. [4]
Podemos perceber que, em tese, qualquer pessoa que é “enviada” para um trabalho missionário é um apóstolo. Porém, os problemas aparecem quando alguém propõe para si a utilização do termo no sentido restrito ao ofício de apóstolo.
Biblicamente, havia duas qualificações específicas para o apostolado no sentido restrito: 1ª – Ser testemunha ocular de Jesus ressurreto (Atos 1:2-3, 1:21-22, 4:33 e 9:1-6; 1Co 9:1 e 15:7-9); 2º – Ter recebido sua comissão apostólica diretamente de Jesus (Mt 10:1-7, Mc. 3:14, Lc 6:13-16, At 1:21-26, Gl 1:1 e  1:11-12 ). Este fato leva-nos a questionar: quem comissionou os apóstolos contemporâneos?
Depois da ressurreição, Jesus apareceu para os apóstolos comissionados por ele próprio e também para várias pessoas, sendo Paulo o último a vê-lo: “Depois foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. Porque eu sou o menor dos apóstolos…” (1Co 15:7-9). No grego, as palavras “depois de todos” é eschaton de pantwn, que significa literalmente “por último de todos”. [5]
Paulo foi o último apóstolo comissionado por Jesus (At 9:1-6). Posteriormente, não encontramos base bíblica para afirmar que exista uma sucessão ou restauração ministerial de apóstolos. Todas as tentativas para justificar uma suposta restauração do ofício apostólico nos dias de hoje, partiram de interpretações alegóricas, isoladas e equivocadas de textos bíblicos.[6] Na história da igreja, não temos nenhum grande líder utilizando para si o título de apóstolo. Papias e Policarpo, que eram discípulos dos apóstolos e viveram logo após o ministério apostólico, não utilizaram esse título. Nem mesmo grandes teólogos e pregadores da história como Agostinho, Calvino, Lutero, Wesley, Whitefield, Spurgeon – entre tantos outros, utilizaram para si o título de apóstolo.
Os apóstolos tiveram um papel fundamental para o estabelecimento da Igreja. Nesta construção, Jesus foi a pedra angular e o fundamento foi posto pelos apóstolos e profetas, conforme descrito em Efésios 2:19-20: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”. Esta passagem é o contexto direto de Efésios 4:11“E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”. Ora, se já temos o alicerce pronto, qual a necessidade de construí-lo novamente? Na verdade não há possibilidade, pois tudo o que vier posteriormente deverá ser estabelecido sobre esta base, conforme alertado pelo apóstolo Paulo: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” (1Co 3:10-11)
Como fundamento da Igreja, os apóstolos possuíam plena autoridade dada pelo próprio Jesus Cristo para designar suas palavras como Palavra de Deus para a igreja em matéria de fé e prática. Através desta autoridade apostólica mediante o Espírito Santo é que temos hoje o que conhecemos como cânon do Novo Testamento, escritos pelos apóstolos. Além disso, faziam parte das credenciais dos apóstolos: operar milagres e sinais extraordinários como curas de surdos, aleijados, cegos, paralíticos, deformidades físicas, ressurreições de mortos etc. (2Co 12:12). Eu creio que Deus opera curas em resposta à orações conforme a vontade soberana d’Ele, porém não creio que as mesmas aconteçam através do comando verbal de novos apóstolos, da mesma forma que era feito pelos apóstolos na igreja primitiva de forma extraordinária.
Outro grande problema que encontramos no título de apóstolo nos dias de hoje é que, automaticamente as pessoas associam o termo aos 12 apóstolos de Jesus. Quem lê o Novo Testamento, identifica a grande autoridade atribuída ao ofício de apóstolo e consequentemente esta autoridade será ligada aos contemporâneos. Quem reivindica o título de apóstolo, biblicamente está tomando para si os mesmos ofícios dos apóstolos comissionados por Jesus, colocando as próprias palavras proferidas ou escritas em pé de igualdade e autoridade dos autores do Novo Testamento. Afinal, os apóstolos tinham autoridade para receber revelações diretas de Deus e escrevê-las para o uso da Igreja. Se admitirmos que existam “novos apóstolos”, devemos assumir que a Bíblia é insuficiente e que as palavras dos contemporâneos são canônicas, o que é absolutamente impossível e antibíblico!
Não podemos deixar de citar o festival de misticismo antibíblico praticado por muitos apóstolos contemporâneos, tais como: atos proféticos, novas unções, revelações extrabíblicas, maniqueísmo, manipulação e coronelização da fé através do conceito “não toqueis nos ungidos”, judaização do evangelho etc. Além disso, o próprio modo de vida deles mostra o oposto dos originais, os apóstolos de Cristo tiveram vida humilde, foram presos, açoitados, humilhados e todos (com exceção de Judas Iscariotes que suicidou-se e João que teve morte natural) morreram martirizados por pregarem o evangelho. Ao contrário disso, os contemporâneos vivem uma vida com patrimônios milionários, conforto e prosperidade financeira. Quando sofrem algum tipo de “perseguição”, as mesmas são decorrentes à contravenções penais com a justiça.
Após esta breve análise, concluo que não há apóstolos hoje! O apostolado contemporâneo é uma distorção bíblica gravíssima que reivindica autoridade extrabíblica, da mesma forma que a sucessão apostólica da Igreja católica romana e os Mórmons. Por isso, devemos rejeitar a “restauração” do ofício apostólico, pois os apóstolos contemporâneos não se encaixam nos padrões bíblicos que validam o apostolado, bem como não existe base bíblica que autorize tal restauração.

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